REDE ARGENTINA, 21 NOV — O presidente eleito Javier Milei anunciou que transferirá para mãos privadas empresas atualmente administradas pelo Estado, como ferrovias, serviços de água e esgoto, televisão, rádio e agências de notícias, e até mesmo a empresa petrolífera YPF.
«Nada que possa estar nas mãos de particulares estará nas mãos do Estado», disse Milei em várias declarações à imprensa, repetindo uma frase feita em meados da década de 1990 pelo ministro Roberto Dromi, o «mentor» do plano de privatização executado pelo presidente peronista Carlos Menem (1989-1999).
Milei prometeu que, a partir de seu governo, que começa em 10 de dezembro, começara um programa de austeridade. «Vamos reduzir os gastos públicos para manter o equilíbrio fiscal», disse. Argentina tem um déficit de 3% do PIB, em comparação com os 1,9% acordados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para renegociar o empréstimo de US$ 44.000 bilhões.
A Argentina «está à beira da pior crise de sua história: ela tem o pior da crise de Raul Alfonsín (1983-89), que é a possibilidade de hiperinflação» de 300%, disse Milei.
Em outubro, a inflação no varejo foi de 8,3%, uma pausa após dois meses consecutivos de aumentos de mais de 12% ao mês. Para novembro, os consultores privados estimam um aumento de preços de cerca de 11%. Nos primeiros 10 meses do ano, a inflação chegou a 120% e os analistas consultados pelo Banco Central estimam que ela chegará a 188,6% em relação ao ano anterior este ano, com uma queda de 2% no PIB, principalmente devido à grave seca que afetou o setor agrícola desde o final de 2022.
Entretanto, o desejo do presidente eleito de privatizar entra em conflito com sua escassa representação parlamentar.
O diretor da empresa de consultoria Synopsis, Lucas Romero, disse à REDE ARGENTINA que a administração de Milei «será a mais fraca, politicamente falando, na história democrática recente da Argentina. Nunca antes um presidente iniciou seu mandato com menos de 20% de seus próprios deputados (de um total de 257) e menos de 10% dos senadores.»
Sua administração «nasceu como um governo «hiperminoritário». Essa fraqueza «deve ser atenuada pela possibilidade de que ele possa agregar setores do Juntos por el Cambio (centro-direita), especialmente depois que seus líderes, o ex-presidente Mauricio Macri e Patricia Bullrich lhe deram apoio nas eleições, e transformar essa coalizão eleitoral em uma coalizão legislativa», disse Romero.