REDE ARGENTINA, 26 NOV – O futuro governo de Javier Milei não tem intenção de romper com o Mercosul, embora sua filiação ao grupo de países emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) esteja sendo questionada, anunciou no domingo a ministra das Relações Exteriores designada, Diana Mondino.
«Não temos interesse em acabar com o Mercosul. O que nos interessa é mudar fundamentalmente a forma como o Mercosul funciona, que é um interesse compartilhado pelos quatro países. Nós quatro queremos mudar isso. O problema é que isso não é fácil, porque nós quatro temos que querer a mesma coisa», disse Mondino em uma entrevista ao jornal Clarín, de Buenos Aires.
Mondino, eleita deputada, é a ministra das Relações Exteriores indicada por Milei para o governo que terá início em 10 de dezembro, após sua vitória no segundo turno presidencial em 19 de novembro com mais de 55% dos votos.
Milei havia dito na campanha que não planejava estabelecer relações entre Estados com a China e o Brasil – seus dois principais parceiros – por considerá-los comunistas, mas Mondino atenuou esse discurso ao incentivar a permanência da Argentina no Mercosul.
Mondino disse que a urgência da diplomacia argentina é concluir os acordos do Mercosul com outras regiões, incluindo o que está sendo negociado com a União Europeia, que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva quer que seja resolvido antes de 7 de dezembro.
A urgência, de acordo com Mondino, é «o Mercosul com a União Europeia, com a EFTA, com Cingapura, e reavaliar ou reprogramar vários acordos que foram feitos isoladamente, por exemplo, com o Japão e Cingapura, mas que estão adormecidos há anos. Eles não foram finalizados, nem ratificados, nem nada mais. O Congresso argentino tem sido um pouco relutante em avançar nessas questões.
Por outro lado, ela disse que não há contradição no fato de Milei convidar dois aliados da extrema-direita global, como os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, para a posse.
«Não, não há contradição porque em uma relação harmoniosa com o resto do mundo, uma relação em que podemos trabalhar em muitas áreas e facetas além da econômica, não implica que as pessoas tenham visões diferentes. Se todos pensássemos da mesma forma, o mundo seria um lugar muito chato», disse.
Nesse contexto, questionou a entrada da Argentina no BRICS a partir de 1º de janeiro, conforme decidido na última cúpula do grupo de países emergentes.
«A Argentina não formalizou nada. É um convite aberto que a Argentina, até onde eu sei, ainda não aceitou. Mesmo que essas questões já estivessem avançadas, nossa preocupação é estarmos abertos ao multilateralismo e tentarmos participar do maior número possível de organizações que nos permitam respeitar o direito internacional, respeitar os direitos humanos e abrir o comércio internacional. E pelo que eu sei até agora, repito, os BRICS estão mais ligados ao alinhamento político do que às vantagens que possam existir para o comércio entre os países. De fato, já temos relações diplomáticas e comerciais com a maioria dos BRICS».
Para Mondino, «não haveria incentivo para entrar no BRICS. A Argentina foi convidada a entrar, o que, pelo que sei, entrará em vigor em 1º de janeiro. Nós ainda não somos membros. Quando formos, poderemos reavaliar. O que vimos até agora é que não há nenhuma vantagem relativa em fazer parte do BRICS. Temos que nos concentrar nas urgências. (Rede Argentina)