REDE ARGENTINA, 20 ago.- A Argentina é o país com o custo de vida mais caro da região e até mesmo superior ao de alguns membros da União Europeia (UE), devido à valorização do peso em relação ao dólar mantida pelo governo de Javier Milei ao longo do ano.

Essa situação pode ser observada especialmente quando se compara a renda necessária para cobrir alimentos básicos, roupas ou combustível, de acordo com uma pes da Universidade de Buenos Aires.

A Argentina tem o custo de vida mais alto da região

Para o estudo, realizado pelo Centro de Estudos para a Recuperação Argentina (RA) da Faculdade de Ciências Econômicas da UBA, a capacidade de comprar cestas de consumo e bens e serviços com salários mínimos em dólares (à taxa de câmbio ilegal no caso local) foi usada em comparação com alguns vizinhos latino-americanos, Portugal, Espanha, França e Alemanha.

O estudo fornece duas maneiras de fazer a comparação: o dinheiro necessário para comprar um bem, serviço ou cesta de consumo e o quanto esse valor representa como porcentagem da renda em questão. Por exemplo, na Argentina, são necessários três salários mínimos para uma cesta básica de consumo e cinco dessa renda se o aluguel da moradia for levado em conta.

No Brasil, o segundo país mais caro da região, são necessários 2 salários mínimos para cobrir essa cesta básica e 3 se for adicionado o aluguel da moradia.

“Se avaliarmos a posição da Argentina em relação aos países selecionados da União Europeia, podemos concluir que a diferença no custo de vida é ainda maior, uma vez que uma pessoa precisa de 2,5 salários mínimos a menos para ter acesso a uma cesta básica de consumo e 3,5 salários mínimos a menos se considerarmos o aluguel de um apartamento estúdio na cidade”, acrescenta o documento da UBA.

Javier Milei

O estudo detalha que o custo de vida de uma família típica (dois adultos e duas crianças em idade escolar) no país é extremamente alto, já que na Argentina são necessários aproximadamente 6 salários básicos a mais do que no Brasil e no Peru, que são os mais caros da região.

Em comparação com a seleção de países europeus, uma família típica argentina precisa de uma média de 11 salários mínimos a mais para comprar os mesmos bens e serviços básicos e para alugar.

Milei assumiu o cargo em dezembro em meio a uma crise e com uma taxa de câmbio considerada muito atrasada. Nos primeiros dias de seu governo, foi aplicado um salto de 118% no preço do dólar oficial e foi estabelecida uma “crawling peg” (desvalorização programada) de 2% ao mês, que vem sendo mantida até agora.

O aumento inicial da inflação e sua manutenção em taxas próximas a 4% ao mês significaram que as microdesvalorizações diárias implicaram uma valorização do peso e um aumento de seu preço em relação ao mundo.

O estudo realizado pela Faculdade de Economia mostra que na Argentina é preciso, em média, mais do que o dobro da renda para comprar uma cesta de alimentos de 2.400 calorias por dia em comparação com seus vizinhos da região e quase cinco vezes mais do que nos países europeus selecionados para a amostra.

Inflação próxima a 4% ao mês significaram que as microavaliações diárias implicaram uma valorização do peso

“É importante observar que a Argentina está entre os 10 maiores produtores de alimentos do mundo, portanto, os preços dos alimentos no país deveriam ser baixos devido à alta oferta, o que não é observado se compararmos em termos relativos os preços dos alimentos com outros países”, disse a universidade.

De acordo com o estudo, são necessários quase três quartos de uma renda mínima para comprar um par de tênis Nike de gama média, enquanto na região esse produto vale, em média, 23% da mesma renda, e menos de 7% na Europa.

Quanto ao preço do combustível, a Argentina está em um nível mais baixo do que o preço médio internacional: US$ 0,90 contra US$ 1,32 por litro. No entanto, se medido em termos de renda, é caro em comparação com a região, algo que se refletiu na queda das vendas mostrada pelos postos de serviço nos cruzamentos de fronteira e para os países da Europa.

“Na Argentina e no Peru, uma parte maior da renda mínima precisa ser gasta para comprar um litro de gasolina (0,55% e 0,54%, respectivamente), o que é muito mais alto do que a média da região (0,33%) e dos países europeus (0,11%)”, concluiu a UBA.

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