REDE ARGENTINA, 13 ago — O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu hoje apoio político ao governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, a quem recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto, em um sinal de sintonia com o principal rival do governante argentino, o ultradireitista Javier Milei.
«Durante a conversa, de cerca de 80 minutos, trocaram impressões sobre a economia argentina e seus desafios presentes, em particular a recessão, o aumento do desemprego e da pobreza e a desindustrialização«, disse o Planalto, em nota.
Falaram também a respeito do cenário político do país, sobre a atuação do peronismo e suas perspectivas, e sobre as relações entre as diferentes correntes ideológicas.
Trataram ainda da conjuntura sócio-econômica da província de Buenos Aires, que concentra grande parte da população e da atividade econômica da Argentina, e sobre os desafios ligados ao quadro recessivo. Kicillof frisou, nesse sentido, a importância das relações econômicas da província com o Brasil.
O presidente Lula comentou sobre o cenário geopolítico da América do Sul e os desafios por que passa o processo de integração regional, após os avanços alcançados durante seus primeiros dois mandatos. Ressaltou, ainda, a importância da continuidade dos diversos projetos de investimentos de empresas brasileiras no país vizinho, afirmou o governo brasileiro.
«No Palácio do Planalto, recebi o governador da província de Buenos Aires, a maior da Argentina, Axel Kicillof, junto com o ministro Fernando Haddad. Axel também se reuniu com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A província de Buenos Aires é a maior e mais industrializada província da Argentina», disse Lula na rede social X.
Kicillof iniciou uma espécie de diplomacia paralela em sua visita de um dia a Brasília para buscar investimentos e impulsionar o comércio, especialmente porque a província de Buenos Aires foi excluída, por decisão de Milei, de um investimento multimilionário em um porto para a exportação de gás produzido no megacampo de Vaca Muerta, na Patagônia.
«Discutimos diferentes tópicos de interesse, em primeiro lugar para entender o que está acontecendo no Brasil, na Argentina e, é claro, no cenário mundial. A verdade é que o presidente Lula se disse muito caloroso, mas também extremamente generoso por ter podido nos receber dessa maneira, para compartilhar não apenas apreciações gerais, mas também as possibilidades de cooperação entre a província de Buenos Aires e o governo do Brasil. Diferentes agências, diferentes dependências do governo brasileiro. Trouxemos propostas de investimento. Os senhores sabem que as empresas brasileiras que operam na Argentina o fazem em proporção maior na província de Buenos Aires. A província de Buenos Aires representa cerca de 40% da produção total da Argentina, mas também representa 50% do produto industrial da Argentina», disse o governador a jornalistas.
Um dos objetivos da Kicillof é encontrar financiamento para investimentos brasileiros na província de Buenos Aires, algo que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil pode oferecer. O BNDES se reporta institucionalmente a Alckmin.
Assim, o governador de Buenos Aires busca se juntar à proposta de neoindustrialização do governo Lula por meio de uma verdadeira massa de investimentos em energia renovável, especialmente eólica, solar e hidrogênio verde.
O objetivo, de acordo com a administração provincial, é «avançar nas ações de cooperação econômica em termos de investimentos e projetos produtivos» no distrito de Buenos Aires.
Kicilloff disse que os cortes orçamentários de Milei contra as províncias da oposição não impedem Buenos Aires, por exemplo, de buscar cooperação e investimento.
«Vimos que a interrupção de obras públicas em nível nacional não prejudica um governo ou um governador, mas sim aqueles que ficam sem escolas. 80 escolas estavam sendo construídas pelo governo nacional, escolas que são extremamente necessárias na província. Temos 227 novos prédios escolares nos últimos quatro anos e até agora temos 5 milhões de alunos, bem, eles os pararam com algum grau de progresso, às vezes muito perto da conclusão, às vezes com financiamento internacional, então não tem nada a ver com o ajuste das contas públicas, eles cortaram todas as obras em todo o país. Obviamente, tudo o que fazem em todo o país afeta mais a província por causa de seu tamanho, por causa da proporção de uma província que representa 38% da população argentina», afirmou.
Kicilloff disse que os cortes orçamentários de Milei contra as províncias da oposição não impedem Buenos Aires, por exemplo, de buscar cooperação e investimento.
Vimos que a interrupção de obras públicas em nível nacional não prejudica um governo ou um governador, mas sim aqueles que ficam sem escolas. 80 escolas estavam sendo construídas pelo governo nacional, escolas que são extremamente necessárias na província. Temos 227 novos prédios escolares nos últimos quatro anos e até agora temos 5 milhões de alunos, bem, eles os pararam com algum grau de progresso, às vezes muito perto da conclusão, às vezes com financiamento internacional, então não tem nada a ver com o ajuste das contas públicas, eles cortaram todas as obras em todo o país. Obviamente, tudo o que fazem em todo o país afeta mais a província por causa de seu tamanho, por causa da proporção de uma província que representa 38% da população argentina.
Ele também disse que as relações com o Brasil devem ser separadas de questões ideológicas e defendeu a liderança de Lula em nível regional, mas também no âmbito do Brics. Milei se recusou a participar do Brics em janeiro e se alinhou com os EUA e Israel.
«Estou muito feliz, por um lado, por ver o papel importante de Lula em nível internacional hoje. Obviamente, eu já disse publicamente que, se dependesse de nós, e continuaremos a fazê-lo na medida do possível, a Argentina deveria fazer parte do Brics. Não por uma questão ideológica de orientação que possa ter a ver com o peronismo ou qualquer outra coisa, mas porque é conveniente para a Argentina. É um bloco muito importante. Lula tem um papel regional muito importante e um papel internacional muito importante dentro dos BRICS», disse a jornalistas.
Kicillof é considerado o principal líder da oposição ao governo de Milei e é candidato à presidência para 2026.
Milei ainda não viajou ao Brasil em uma visita de Estado, mas o fez para se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro em junho passado durante uma convenção de extrema direita em Balneário Camboriú.
O libertário argentino se recusou a pedir desculpas a Lula por tê-lo chamado de comunista e ladrão para estabelecer um relacionamento, de modo que as relações entre os principais parceiros do Mercosul estão em níveis ministeriais e técnicos da diplomacia.
Doutor em Economia pela Universidade de Buenos Aires com medalha de ouro, Kicillof é um keynesiano do movimento peronista que foi ministro da Economia no final do segundo governo de Cristina Kirchner (2007-2015).