REDE ARGENTINA, 10 dez — O libertário Javier Milei (53) anunciou medidas econômicas duras, criticou o governo anterior e previu que a escalada inflacionária que afeta a Argentina continuará pelo menos nos próximos 12 meses, depois de tomar posse perante a Assembleia Legislativa e se tornar presidente do país até 10 de dezembro de 2027.

O presidente argentino, Javier Milei

Nenhum governo recebeu uma herança pior do que a que estamos recebendo», disse Milei e continuou: «O kirchnerismo, que no início se vangloriava de ter superávits fiscais e externos gêmeos, hoje nos deixa com déficits gêmeos de 17% do PIB». «Por sua vez, 15% corresponde ao déficit consolidado entre o Tesouro e o Banco Central. Portanto, não há solução viável que evite atacar o déficit fiscal. Cinco por cento correspondem ao Tesouro e 10 por cento ao Banco Central», explicou.

Assim, Milei, ex-deputado do partido La Libertad Avanza (LLA), referiu-se às medidas que tomará para enfrentar esse cenário: «A solução implica, por um lado, um ajuste fiscal no setor público de 5 pontos do PIB, que, ao contrário do passado, recairá quase que totalmente sobre o Estado e não sobre o setor privado».

«Por outro lado, é necessário sanear os passivos remunerados do Banco Central, que são responsáveis por 10 pontos do déficit. Isso acabaria com a emissão de dinheiro e, portanto, com a única causa empiricamente verdadeira e teoricamente válida da inflação», disse o libertário.

Enquanto isso, a ministra das Relações Exteriores nomeada, Diana Mondino, confirmou que a Argentina se inscreverá na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) amanhã. Com esse anúncio, e depois de rejeitar a adesão ao Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o atual governo alcançou um de seus objetivos de política externa e retomou um processo iniciado durante o mandato de Mauricio Macri (2015-2019).

Macri havia solicitado a incorporação da Argentina à OCDE em março de 2016, mas essa intenção não foi levada adiante durante o mandato de Alberto Fernández, apesar de o convite para ingressar na organização ter sido formalizado no final de janeiro de 2022.

Milei, acompanhado de sua vice-presidente, a advogada Victoria Villarruel, chefe do Centro de Estudos Jurídicos sobre Terrorismo e suas Vítimas (CELTYV), falou sobre a política econômica que levará adiante e garantiu que a política monetária tem uma «defasagem de 18 a 24 meses; mesmo que paremos de emitir dinheiro, continuaremos a pagar os custos do desequilíbrio monetário do governo anterior. A emissão de 20 pontos do PIB não é gratuita: vamos pagar por isso com a inflação».

E acrescentou: «Ao mesmo tempo, a armadilha do câmbio não é apenas um pesadelo social e produtivo, pois implica em altas taxas de juros, baixos níveis de atividade e emprego formal e salários reais miseráveis que impulsionam o aumento dos pobres e indigentes, mas também, hoje, o excedente de dinheiro na economia é o dobro do Rodrigazo (em referência à desvalorização brutal imposta em 1975 pelo então ministro da Economia da ex-presidente Isabel Perón, Celestino Rodrigo), que multiplicou a taxa de inflação por seis».

O agora presidente enfatizou: «Um evento semelhante significaria multiplicar a taxa de inflação por 12 e, considerando que ela tem se deslocado a uma taxa de 300%, poderíamos chegar a uma taxa anual de 3600%. Ao mesmo tempo, dada a situação dos passivos que rendem juros do BCRA, em um tempo muito curto a quantidade de dinheiro poderia quadruplicar e, assim, levar a inflação a níveis de 15.000% ao ano».

«Esse número, que parece loucura, implica em uma taxa de inflação de 52% ao mês, enquanto que hoje ela está em uma taxa entre 20% e 40% ao mês nos meses entre dezembro e fevereiro», disse ele.

«O governo que está saindo nos deixou com hiperinflação e é nossa prioridade máxima fazer todos os esforços para evitar essa catástrofe que levaria a pobreza a mais de 90% e a indigência a mais de 50%. Não há solução alternativa para o ajuste», argumentou o presidente.

«A herança não termina aqui», disse Milei aos gritos da multidão militante. «Os desequilíbrios nas tarifas só são comparáveis ao desastre deixado pelo kirchnerismo em 2015. Em termos de taxas de câmbio, a diferença varia entre 150% e 200%», disse.

A dívida com os importadores, segundo Milei, «ultrapassa os US$ 30 bilhões e os lucros retidos das empresas estrangeiras chegam a US$ 10 bilhões. A dívida do BCRA e da YPF totaliza US$ 25 bilhões e a dívida do Tesouro é de mais US$ 35 bilhões. A bomba da dívida chega a US$ 100 bilhões a serem adicionados à dívida existente de US$ 420 bilhões».

«A conclusão é que não há alternativa ao ajuste e ao choque. Isso terá um impacto negativo sobre o nível de atividade, emprego, salários reais e o número de pessoas pobres e desempregadas.

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