REDE ARGENTINA, 28 NOV —  A província de Tierra del Fuego, no extremo sul da Argentina, tem muitas atrações naturais, como montanhas cobertas de neve, geleiras, vistas de ilhas onde habitam leões marinhos, mas também atrações históricas, como «La Cárcel del Fin del Mundo», (prisão no fim do mundo).

Também é conhecida como «La Siberia Argentina».

O plano do governo argentino em 1900 era estabelecer uma colônia penal na Tierra do Fuego, imitando o que a Inglaterra havia feito na Austrália. Dessa forma, pretendia-se eliminar os «elementos perigosos» da sociedade, confinando-os em um local remoto e, ao mesmo tempo, utilizando-os como mão de obra para o desenvolvimento desse território desolado.

A primeira prisão na Tierra del Fuego  foi uma prisão militar na Isla de los Estados, cerca de 24 quilômetros a sudoeste da cidade de Ushuaia, separada pelo Estreito de Le Maire.

As condições de vida eram tão adversas que, mais tarde, a prisão foi transferida para Tierra del Fuego, para a cidade de San Juan de Salvamento e depois para Port Cook. Mas as duras condições de vida nessa prisão, combinadas com a dureza de uma ilha assolada por neve e tempestades de vento, levaram a um motim em 1902. Isso levou à decisão do governo nacional de transferir a prisão militar para Puerto Golondrina, a oeste de Ushuaia.

Ao mesmo tempo, no mesmo ano, foi iniciada a construção da prisão para civis em Ushuaia, então conhecida como Presidio Nacional. Um engenheiro italiano, Catello Muratgia, foi encarregado de projetar o prédio seguindo o modelo do panóptico, que tinha como objetivo facilitar a vigilância.

Ele foi construído com a mão de obra dos próprios prisioneiros, que usaram pedra e alvenaria para a construção. Quando a obra foi concluída em 1911, a prisão imediatamente se destacou no pequeno vilarejo de casas de madeira que não tinham dois andares. Era, e ainda é, uma impressionante massa de pedra com cinco pavilhões de 75 metros de comprimento, dispostos radialmente, que convergiam em um recinto poligonal. Cada pavilhão tinha dois andares e abrigava um total de 76 celas cada.

Nas extremidades, as alas terminavam em um martelo arquitetônico de 12 metros de comprimento, onde ficavam os banhos. Fora do prédio principal, foram construídos outros cômodos para a capela, a enfermaria, as oficinas e a administração. Coincidindo com a conclusão das obras de construção, em 1911 o Governo Nacional decidiu fundir a prisão militar com a civil e, assim, nasceu a Prisão Militar e Prisão para Detentos de Ushuaia.

A Sibéria da Argentina

O perfil das pessoas enviadas para a ilha incluía condenados por roubo e fraude, militares que haviam sido deportados por abandono do dever ou deserção e assassinos. O mais famoso deles foi Cayetano Santos Godino, apelidado de «el Petiso Orejudo»  (O Baixinho Orelhudo), um jovem filho de imigrantes italianos que matou quatro crianças e foi acusado de outras sete tentativas de assassinato e incêndio criminoso.

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(Petiso Orejudo, ficha policial, foto)

 

 

Outros prisioneiros notórios foram o anarquista de origem russa Simón Radowitsky, acusado de assassinar o Comissário Falcón e sua secretária com uma bomba, e Mateo Banks, de ascendência irlandesa, que assassinou oito pessoas na cidade de Azul, na província de Buenos Aires. 16042017_15mateo.jpg (Mateo Banks, homicida, foto)

Os prisioneiros chegaram a Ushuaia de barco, com algemas nos tornozelos e guardados por um grupo de soldados. O clima gelado, a solidão dos lugares e o regime de punições a que eram submetidos dentro da prisão fizeram com que a Tierra del Fuego fosse chamada de «a Sibéria argentina» e «a terra amaldiçoada».

A rotina diária dos prisioneiros era regida por trabalho árduo e vigilância rigorosa. Uma das tarefas que tinham de realizar era abastecer a prisão e a cidade com lenha, para o que marchavam por um caminho que levava à área do rio Pipo. Lá, os prisioneiros passavam horas cortando troncos de lenga com machados pesados e depois carregavam a lenha a bordo de um trem a vapor. Quando o trabalho era concluído, os prisioneiros retornavam à prisão a pé, seguindo os trilhos.

Hoje, o Trem do Fim do Mundo recria parte dessa jornada histórica para os visitantes.

A prisão funcionou por vários anos, apesar dos protestos de alguns setores em relação ao tratamento desumano dos prisioneiros e à frequência de mortes que ocorriam como resultado de punições e torturas. Em 1947, sob a presidência de Juan Domingo Perón, foi ordenado o fechamento definitivo da prisão de Ushuaia. As instalações foram cedidas à Marinha e, em 1997, foi inaugurado o Museu da Prisão, que continua preservando esse capítulo dramático da história da Tierra del Fuego até os dias de hoje.

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