REDE ARGENTINA, 16 sep — Os sindicatos das companhias aéreas argentinas realizaram uma greve de 24 horas entre o meio-dia de sexta-feira e o sábado, o que causou atrasos e o cancelamento de mais de 300 voos. Cerca de 37.000 passageiros foram afetados.
Os funcionários estão exigindo uma atualização salarial de acordo com a inflação, enquanto a empresa estatal está ameaçando processar os sindicatos por danos estimados em cerca de três milhões de dólares (17 milhões de reais).
Os sindicatos alegam que os salários estão 70% defasados em relação à taxa de inflação do ano passado, que foi de 237%. Dois em cada três passageiros aéreos na Argentina voam com a estatal Aerolíneas Argentinas.
O ultradireitista Javier Milei pensou em privatizá-la assim que assumiu a presidência, mas o Congresso a incluiu na lista de empresas que deveriam permanecer nas mãos do Estado argentino. Frustrada essa meta, o governo ordenou severos cortes de verbas que colocaram os trabalhadores em pé de guerra.
No início de julho, Milei liberalizou o acesso ao mercado aéreo argentino para permitir a entrada de novas operadoras, nacionais ou estrangeiras, para prestar serviços de transporte de passageiros ou de carga.
Por meio de um decreto, o governo desregulamentou as tarifas cobradas pelas empresas, bem como o serviço de rampa nos aeroportos, que inclui atividades relacionadas ao embarque e desembarque de passageiros, carga e descarga de bagagens, sinalização, reboque e limpeza de aeronaves, entre outras. Até então, a empresa pública Intercargo realizava a maior parte dessas tarefas.
A medida oficial retomou a política de céus abertos que havia sido tentada pelo governo de Mauricio Macri (2015-2019) e depois desfeita por seu antecessor, o peronista Alberto Fernández (2019-2023).
O conflito na Aerolíneas Argentinas começou a se agravar há um mês e ambos os lados estão endurecendo cada vez mais sua posição. Em menos de quatro semanas, os trabalhadores realizaram sete greves, incluindo várias assembleias surpresa que paralisaram aviões e seus passageiros, causando, de acordo com a empresa, prejuízos de milhões de dólares.
Na quinta-feira, a empresa demitiu três pilotos que, na semana passada, se recusaram a devolver um avião fretado pela empresa ao seu destino. Anunciou também que levará os sindicatos à justiça e tomará medidas para expulsar o presidente da Associação de Pilotos de Linhas Aéreas (APLA), Pablo Biró, da diretoria da Aerolíneas. As represálias também incluirão a aplicação de deduções salariais a mais de 400 funcionários “por não cumprirem suas funções e afetarem a programação de voos da empresa”.
A Aerolíneas foi nacionalizada em 2008, durante o mandato da presidente Cristina Fernández de Kirchner, após sete anos de administração caótica pelo grupo espanhol Marsans, que a levou à falência. Desde então, a empresa tem dependido de subsídios estatais para sua operação.
Desde que Milei assumiu o controle, a empresa reduziu sua força de trabalho em 13% por meio de dois planos de demissão voluntária, chegando aos atuais 10.400 funcionários. O déficit operacional foi reduzido em 70% no primeiro semestre de 2024, de US$ 272 milhões para US$ 79 milhões, de acordo com fontes da Aerolíneas.