REDE ARGENTINA, 7 mai — O presidente argentino, Javier Milei (La Libertad Avanza, LLA), afirmou que o comunismo é um «regime assassino», que a Argentina manterá sua decisão de transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém Ocidental e negou que o ajuste implementado por seu governo afetará a situação dos aposentados e pensionistas, depois de garantir que eles ganham «mais do que o dobro» do que recebiam no governo anterior.
Também assegurou que «não é o momento» de discutir a soberania sobre as Ilhas Malvinas, em entrevista à rede britânica de notícias BBC.
«O comunismo assassinou 150 milhões de seres humanos. Ou seja, foi a maior máquina de matar da história da humanidade (…); por isso é muito difícil aderir a esse conjunto de ideias que causaram tantos danos às pessoas porque, além disso, onde o comunismo foi aplicado foi um fracasso económico, social e cultural. Acredito na liberdade, não acredito em sistemas colectivistas, acredito na liberdade dos indivíduos e não na opressão dos indivíduos pelo Estado», afirmou Milei, que se definiu ao longo da entrevista como um «liberal libertário».
Segundo um estudo da Universidade Di Tella de Buenos Aires, desde que Milei tomou posse, a 10 de dezembro de 2023, cerca de três milhões de argentinos caíram na pobreza, que já atinge quase 50% da população do país. O salário mínimo foi fixado esta semana em $246.000 (R$ 1230), enquanto a pensão mínima – que é paga a cerca de 80% dos beneficiários – é de $200.000 (R$ 1000).
Milei disse que «no que diz respeito ao ajuste, herdamos um déficit de cinco pontos do PIB no Tesouro e, na primeira parte, exageramos e fomos para o equivalente a um ajuste de sete pontos do PIB, o que também nos permitiu gerar um superávit. Deste ajustamento, um ponto é contribuído por impostos mais elevados e quatro pontos têm a ver com a redução da despesa pública. Apenas 0,4% do PIB tem impacto nas pensões e reformas; ou seja, 90% do ajustamento recai sobre a casta e apenas 10% do ajustamento recaiu sobre as pensões».
Enquanto à soberania sobre as Malvinas e as ilhas do Atlântico Sul, Milei ) afirmou: «Acreditamos que isto tem de ser feito sempre no quadro da paz e como consequência de um processo de negociação a longo prazo, em que se discute de forma adulta entre dois países que têm muito em comum e que têm um elemento de discórdia; obviamente que não é uma solução instantânea, mas uma solução que levará tempo», e acrescentou que a solução poderia ser semelhante à da antiga colónia britânica de Hong Kong, devolvida à China em 1999 com um regime de autonomia especial.
«Acredito que se trata de uma negociação a longo prazo e que pode ser estabelecida da mesma forma que aconteceu com a China e Hong Kong (…) deve ser entendida como uma questão de Estado a longo prazo. Não vamos abdicar da nossa soberania, mas se este não é o momento de a discutir hoje, bem, será discutida noutra altura», disse o Presidente.
“Penso que se trata de uma posição muito mais séria e que temos muitas questões na ordem do dia em que podemos trabalhar em conjunto e estamos dispostos a fazê-lo. Penso que esta é a forma adulta de lidar com a situação. Penso que esta é a forma adulta de o fazer e sem dor», disse. A Argentina e o Reino Unido travaram um conflito armado entre abril e junho de 1982, que custou a vida a pelo menos 629 soldados argentinos e culminou com a manutenção do domínio de Londres sobre o território insular até aos dias de hoje.
Apesar desta situação, Milei disse mais do que uma vez que «admirava» a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, apesar de ter sido ela a ordenar o afundamento do navio de transporte de tropas Crucero General Belgrano, a 2 de maio de 1982, no qual morreram 323 combatentes argentinos.
«Temos de fazer uma distinção. Houve uma guerra e foi a nossa vez de perder. Isso não significa que não se possa considerar que aqueles que estavam à nossa frente eram pessoas que fizeram bem o seu trabalho. E eu não admiro apenas Margaret Thatcher, admiro também Ronald Reagan nos Estados Unidos. E admiro profundamente Winston Churchill, por isso qual é o problema?», respondeu Milei a uma pergunta nesse sentido do correspondente da BBC.
Por fim, defendeu a posição de Israel no conflito com o Hamas e ratificou a sua decisão de transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém Ocidental, tal como fez o ex-presidente dos EUA Donald Trump, considerado uma personalidade a imitar pelo presidente argentino.
«Defendemos e apoiamos o direito à auto-defesa do povo de Israel. E Israel actua de acordo com as regras internacionais. Se existe um conjunto de regras internacionais para se movimentar no âmbito destes acontecimentos e se eles estão a respeitá-las, porque é que isso deve ser questionado? Estamos do lado da liberdade, do lado dos EUA, do lado de Israel e do lado da Europa Ocidental», acrescentou.
E sobre a sede diplomática, assegurou que «estamos a pensar em mudar a embaixada argentina em Israel para Jerusalém Ocidental», embora tenha afastado a possibilidade de isso gerar a possibilidade de a Argentina ser alvo de atentados de grupos islamitas, como os que ocorreram em 1992, na embaixada israelita em Buenos Aires, em que morreram 22 pessoas, e em 1994 na sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em que morreram 85 pessoas e mais de 300 ficaram feridas.
«Isto é totalmente falso. Em primeiro lugar, porque a Argentina já foi alvo de dois atentados terroristas e está provada a ligação com o Irão, o que significa que a Argentina é um dos alvos de ataque. Em segundo lugar, há outros países que manifestaram posições contrárias a Israel, posições neutras, e também foram atacados, pelo que esta não é uma condição para o que está a dizer», afirmou.
E concluiu: «por outro lado, tendo em conta a forma como vemos o mundo, tomar uma posição diferente seria uma falta de coragem, seria uma covardia. E aqueles que são covardes são os mais susceptíveis de serem vítimas do terrorismo. Porque, precisamente, o terrorismo tenta semear o terror e quanto mais cobarde for a nossa atitude, mais seremos vítimas de ataques terroristas».