REDE ARGENTINA, 27 abr – Cientistas argentinos apoiados pelo estatal Consejo de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) decifraram o genoma completo do Malbec, o que permitirá que a principal uva da Argentina melhore sua qualidade e também a torne mais forte contra os efeitos da mudança climática no setor vinícola.
«Os resultados do estudo são fundamentais para o desenvolvimento de clones de cepas de uva que apresentem um comportamento mais adaptável ao aumento das temperaturas globais e abrem portas para novas pesquisas que irão melhorar a qualidade do Malbec, carro-chefe da viticultura argentina», disse o Conicet, em nota.
O trabalho foi publicado na revista Horticulture Research .
A pesquisa faz parte do projeto IBEROGEN, um consórcio internacional formado por instituições públicas e privadas da Argentina e da Espanha, criado com o objetivo de determinar a base genética e molecular da variação somática que se gera em plantas de videira das variedades Malbec e Tempranillo. Participou o grupo vinícola Mercier.
Este é um conhecimento importante para a obtenção de vinhos de qualidade num contexto de aumento generalizado das temperaturas globais.
No âmbito deste estudo, cujos resultados foram apresentados na La Enoteca da cidade de Mendoza, a equipe científica conseguiu decifrar, através de técnicas avançadas de bioinformática e sequenciamento de DNA, todo o genoma diplóide do Malbec, proporcionando uma perspectiva mais clara sobre o interação genética entre suas duas variedades parentais, Prunelard e Magdeleine Noire des Charentes .
Foi demonstrado que mais de um quarto do genoma apresenta variações genéticas significativas, permitindo uma avaliação aprofundada do transcriptoma – a expressão gênica ativa – de quatro acessos clonais de Malbec, cada um com características únicas de composição de bagos de uva.
“Este tipo de pesquisa não seria possível sem a coordenação entre organizações dos setores científico, industrial e produtivo”, comentou Diego Lijavetzky, pesquisador do CONICET, diretor do Laboratório de Genética e Genômica da Uva, do Instituto de Biologia Agrícola de Mendoza. (IBAM, CONICET-UNCUYO) e líder de trabalhos científicos.
“Consideramos que esta investigação nos deu uma ferramenta fundamental para compreender a biologia da nossa variedade emblemática neste contexto de alterações climáticas”, afirmou Luciano Calderón, outro dos investigadores do CONICET envolvido no projeto. “
Ao combinar todas as informações genômicas que obtivemos, conseguimos decodificar que o Malbec contém mais de setenta mil genes em seu genoma, que codificam mais de oitenta e oito mil proteínas. Isso é importante para nós, porque agora temos uma ferramenta que é o genoma referência do Malbec com base em todas as suas informações genômicas”, explicou.
“Além disso, demonstramos que temos uma ferramenta que funciona. No mesmo trabalho em que apresentamos o genoma do Malbec, encontramos um padrão de expressão gênica diferencial que explica por que certos clones apresentam maior teor de antocianinas e polifenóis em seus frutos”, afirma o cientista.
Por parte de Espanha, Bodegas Roda SA e o grupo “Vitigen” do Instituto de Ciências da Vinha e do Vinho (ICVV) de Logroño fazem parte do projecto IBEROGEN.
A crise climática afecta os ciclos vegetativos e reprodutivos da videira, produzindo alterações específicas no desenvolvimento das uvas, acelerando a diminuição dos ácidos orgânicos, induzindo um aumento na concentração de açúcares e retardando a acumulação de antocianinas durante a maturação fenólica. A consecuencia da origem a vinhos com teor alcoólico excessivo, baixa acidez, baixa intensidade de cor e sabores adstringentes.
O material utilizado para o sequenciamento foi o clone Malbec Mercier 136, que corresponde a uma obtenção de 1999 do Viveiro Mercier Argentina, proveniente de um vinhedo com mais de 100 anos localizado na província argentina de Mendoza (oeste).
A divulgação ocorre durante a comemoração do Dia do Malbec, em 17 de abril.