REDE ARGENTINA, 9 nov — O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, enfatizou a importância das relações entre os dois países, depois de rejeitar as declarações do candidato libertário à presidência, Javier Milei, que disse que evitaria todos os laços com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem descreveu como «comunista» e «corrupto», no contexto da campanha para o segundo turno das eleições presidenciais na Argentina, marcadas para 19 de novembro.
Scioli alertou sobre o «grande impacto negativo» que o esfriamento dos laços bilaterais teria sobre «a maioria das exportações argentinas», afetando setores como a indústria automotiva, que, segundo ele, emprega «200.000 pessoas direta e indiretamente».
Além disso, o ex-vicepresidente descreveu as definições de Milei sobre o presidente brasileiro como «absolutamente estranhas» porque «Lula não é comunista nem corrupto. Ele foi absolutamente absolvido» de todas as acusações contra ele pelo sistema judiciário brasileiro».
«Mais uma vez nos deparamos com uma definição absolutamente errada, porque Lula não é comunista nem corrupto», disse Scioli em uma entrevista ao canal de notícias C5N e esclareceu: «O Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil disse que ele não é corrupto, que disse que o sistema judiciário foi usado para fins políticos e que ele foi absolutamente absolvido».
O embaixador argentino descreveu o fato como «lamentável», já que, em sua opinião, o nível das exportações argentinas para o Brasil não pode ser mantido apenas por meio de negociações entre entidades privadas.
Milei -candidato do partido La Libertad Avanza (LLA)- disse que, se ele se tornasse presidente, evitaria todos os laços institucionais com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, a quem ele mais uma vez chamou de «comunista» e «corrupto», em uma entrevista com o jornalista peruano Jaime Bayly.
«Eu não me encontraria com ele», disse Milei sobre o futuro relacionamento que, como chefe de Estado argentino, ele poderia ter com o líder do Partido dos Trabalhadores, a quem ele criticou em mais de uma ocasião.
Scioli também destacou a «aliança estratégica» e os «interesses compartilhados» entre a Argentina e o Brasil, o principal parceiro comercial do país e um dos dois principais destinos das exportações argentinas, juntamente com a China. Nesse sentido, ele mencionou o grande número de acordos assinados recentemente entre Brasília e Buenos Aires, por exemplo, em «infraestrutura, agricultura, lítio e cobre».
Ele também se referiu à licitação com o Brasil para o financiamento de uma seção do gasoduto Néstor Kirchner que permitirá que o «excedente» desse produto seja exportado para o país vizinho, permitindo «um círculo virtuoso» e obtendo os dólares necessários para «expandir a indústria nacional».
Nesse contexto, ele observou que a vitória do Ministro da Economia e candidato presidencial da União pela Pátria (UxP), Sergio Massa, no primeiro turno das eleições de 22 de outubro «gerou um certo alívio» nos setores industriais do país vizinho.
O embaixador mostrou-se confiante de que a vitória de Massa nas urnas de 19 de novembro garantirá as melhores relações diplomáticas» com o Brasil e outros parceiros estratégicos do país após 10 de dezembro, além de favorecer o aprofundamento da «integração latino-americana».
Nessa perspectiva, Scioli também defendeu os laços com a China (a segunda maior potência comercial do mundo, com a qual Milei também propõe o rompimento das relações diplomáticas) por causa de «tudo o que isso significa para o complexo agroexportador» e a recente entrada da Argentina no Brics.
Sobre este último, ele lembrou que o bloco de países e potências emergentes representa mais de 42% da população mundial, 30% do território mundial, 23% do PIB e 18% do comércio mundial, e destacou os «múltiplos benefícios» da incorporação do país ao Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NBD-BRICS).
Por outro lado, Scioli rejeitou a ideia do líder de extrema direita de deixar o comércio bilateral com países que ele considera «comunistas», como o Brasil e a China, nas mãos de «indivíduos privados», afirmando que o intercâmbio comercial «necessariamente exige acordos entre países que forneçam uma «estrutura de previsibilidade e confiança».