REDE ARGENTINA, 6 out  (Por Alejandro Verdier, Embaixador da República Argentina na República de Angola*) –  Em Angola é comum ouvir a frase «Estamos juntos» utilizada pela população local como sinal de afeto e também para denotar a existência de fortes laços de amizade, o que no caso de Angola e Argentina reflecte fielmente a realidade do vínculo que une os nossos povos. Esta relação remonta a 1977, altura em que o nosso país reconheceu a então República Popular de Angola como um Estado soberano, estabelecendo relações diplomáticas dois anos depois.

Desde então, o relacionamento bilateral tem vindo a reforçar-se de forma sustentada, assumindo um especial impulso nas duas últimas décadas com a abertura das respectivas Embaixadas (de Angola em Buenos Aires, em 2004, e do nosso país em Luanda, em 2006), a assinatura de numerosos acordos sobre diversas matérias e a intensificação do comércio bilateral.

Nos últimos anos trabalhámos com renovado entusiasmo para fortalecer as relações bilaterais, tanto a nível político como económico, tendo organizado uma Missão Comercial Multissectorial na qual participaram numerosas empresas argentinas e angolanas de sectores como a agroindústria, laboratórios, alimentação, telecomunicações, maquinaria industrial e hidrocarbonetos. Neste sentido, Angola está a emergir como um mercado de grande interesse para as exportações argentinas, com uma população de cerca de 40 milhões de habitantes, em crescimento contínuo e sustentado, que por sua vez se oferece como uma porta de entrada para a África Austral através dos seus portos e caminhos-de-ferro.

Mas Angola não só representa uma oportunidade enquanto mercado, como também se oferece como parceiro para o desenvolvimento de negócios, com uma superfície cultivável e disponibilidade de água doce mais do que relevante e que alguns estimam ser superior à da Argentina. São muitas as empresas e os nacionais que decidiram apostar no crescimento desta jovem nação, sendo um caso emblemático o da ARCOR, que no ano passado inaugurou a sua primeira unidade de produção fora do continente americano, a partir da qual já exporta para os países vizinhos.

A população é muito agradável, tal como o clima em Angola durante todo o ano. A nível linguístico, o português não é uma barreira, mas sim uma possibilidade de entendimento sem grandes dificuldades entre povos que têm mais em comum do que se possa pensar à primeira vista. Embora o fluxo turístico seja ainda incipiente, Angola possui diversas paisagens que impressionam pelo seu estado natural e diversidade, desde o deserto do Namibe até às cataratas de Kalandula, passando pelas suas reservas naturais com as mais variadas espécies de animais, e convida, com uma medida muito recente, a ser visitada sem necessidade de pedir visto[1]. A sua companhia aérea de bandeira, a TAAG, liga-nos via São Paulo a destinos como a África do Sul, o Congo ou mesmo Lisboa, com inúmeros voos semanais.

Salientamos ainda que partilhamos com Angola uma visão comum das relações internacionais, baseada nos princípios da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, da cooperação e da promoção de relações amistosas e da manutenção da paz e da segurança internacionais. Ao mesmo tempo, somos membros de numerosas organizações internacionais de interesse para as nossas nações, como as Nações Unidas, a OMC, entre muitas outras, e fóruns multilaterais como o G77 + China, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), para citar alguns.

Esta visão comum permite fortalecer os processos de diálogo e intercâmbio, com estratégias de cooperação em diferentes áreas que produziram resultados concretos e mutuamente benéficos. Desde 2012, quando a Argentina apresentou o Plano Interministerial de Cooperação Técnica Argentina-Angola, foram lançados projetos de cooperação financiados pelo nosso país em diversas áreas (metrologia, melhoria das políticas universitárias, certificações de qualidade, fortalecimento das PME, entre outros). Nas próximas semanas vamos coroar um projeto de cooperação que criou um curso de engenharia de recursos hídricos na província do Bié, com a entrega de diplomas ao primeiro grupo de engenheiros hídricos deste país.

A cooperação também se desenvolve em áreas como a agricultura, a saúde e as questões humanitárias, com a Argentina a doar vacinas durante a pandemia da COVID-19 e a oferecer formação em matéria de prevenção de riscos de catástrofes, entre outras. Na área da segurança, através da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, os nossos países partilham o interesse em situações que afectam a soberania e integridade territorial de alguns membros da Zona. Neste sentido, Angola apoiou a declaração e o plano de ação do Mindelo, adoptados por consenso este ano, em que se instou a Argentina e o Reino Unido a retomarem as negociações sobre a soberania das Ilhas Malvinas e se manifestou preocupação pelo desenvolvimento de actividades ilegítimas de exploração de hidrocarbonetos na zona em disputa.

Acreditamos que, num futuro próximo, se abrirão novos caminhos para que este «estar juntos» se traduza cada vez mais no crescimento dos nossos povos, no desenvolvimento das nossas economias e no estreitamento de laços que transcendem a distância de um lado ao outro do Atlântico.

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